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Inquietações de Assis retrata deliciosamente o cotidiano da vida do interior. A centenária Assis é homenageada neste livro dentro de aspectos muito peculiares. Alguns personagens característicos, eventos emocionantes e seus aspectos políticos e sociais aparecem em artigos publicados pelo autor em jornais locais desde 1975.
O destaque particular, ao ensino e ao professorado, representa a íntima relação do autor com esta cidade de efetiva tradição universitária.

     :: Pacto da mediocridade


Uma das maiores causas do abaixamento do nível do ensino, nos últimos dez anos pelo menos, é a nosso ver o que há muito chamamos de “pacto da mediocridade”. Refere-se essa expressão a um acordo tácito, que, habitualmente, tem ocorrido entre professor e aluno, no processo ensino-aprendizagem, em que nem o primeiro ensina, nem o segundo aprende, mas ambos cumprem aparentemente as suas obrigações, um no seu comodismo escondendo a sua deficiente formação, outro no seu mínimo esforço ocultando a sua ignorância. Desde logo o aluno percebe que o professor, mal formado, tem lacunas imperdoáveis, mas não o questiona, aceita-o, admite-o, tolera-o, em troca do favor da promoção gratuita, com que o docente, sem condição de exigência alguma, falseia o seu processo de avaliação.

Parece-nos que esse estado de coisas se agravou em São Paulo, no fim da década de 70 e princípios da de 80, ficando como momento oficialmente marcado o deficiente concurso de efetivação do magistério público de primeiro e segundo graus, no início do Governo Maluf, concurso esse que, através de testes sem mínimo de nota, acabou por conceder aprovações em massa, para a estabilidade de docentes muito mal preparados. Pode-se bem imaginar que, em conseqüência, as classes de primeiro e segundo graus, que ficaram depois nas mãos de tais professores, muito pouco puderam aproveitar, em termos de ensino seguro, e se tornaram, obviamente, núcleos propícios a vários tipos de acordos escusos.

Hoje, infelizmente, tal espírito começa a avançar também no ensino oficial de terceiro grau. E o que acabou de ocorrer na UNESP de Assis é praticamente um exemplo típico. Os estudantes de Assis, depois de se disporem heroicamente a “apoiar” a greve de seus professores – justa, diga-se de passagem, nas suas reivindicações salariais, mas talvez organizada em momento inadequado – não assumiram efetivamente as conseqüências do apoio dado e, ao invés, resolveram, ao final, cobrar dos docentes a retribuição, com a exigência do término imediato do ano letivo e da concessão, para todos, da nota mínima que garantisse sem esforço a sua aprovação.

Veja-se que se pretendeu a mesma troca de gentilezas que caracterizou o referido “pacto da mediocridade”, curiosamente mais disseminado na época em que esses mesmos universitários cursavam os bancos escolares do primeiro e segundo graus. Ainda bem que os professores da UNESP de Assis se uniram em torno da defesa de sua autonomia de avaliação, evitando, pelo menos por ora, que a democracia que aí se pretende degenere em “democratice”, um regime de aparente igualdade, mas de fato desrespeitoso, que permite pactos e concessões que reduzem a dignidade pessoal e acadêmica, em forte comprometimento do futuro da Universidade.

(VOZ DA TERRA – 19/12/87)