Uma das maiores causas do abaixamento
do nível do ensino, nos últimos
dez anos pelo menos, é a nosso
ver o que há muito chamamos
de “pacto da mediocridade”.
Refere-se essa expressão a
um acordo tácito, que, habitualmente,
tem ocorrido entre professor e aluno,
no processo ensino-aprendizagem, em
que nem o primeiro ensina, nem o segundo
aprende, mas ambos cumprem aparentemente
as suas obrigações,
um no seu comodismo escondendo a sua
deficiente formação,
outro no seu mínimo esforço
ocultando a sua ignorância.
Desde logo o aluno percebe que o professor,
mal formado, tem lacunas imperdoáveis,
mas não o questiona, aceita-o,
admite-o, tolera-o, em troca do favor
da promoção gratuita,
com que o docente, sem condição
de exigência alguma, falseia
o seu processo de avaliação.
Parece-nos que esse estado de coisas
se agravou em São Paulo, no
fim da década de 70 e princípios
da de 80, ficando como momento oficialmente
marcado o deficiente concurso de efetivação
do magistério público
de primeiro e segundo graus, no início
do Governo Maluf, concurso esse que,
através de testes sem mínimo
de nota, acabou por conceder aprovações
em massa, para a estabilidade de docentes
muito mal preparados. Pode-se bem
imaginar que, em conseqüência,
as classes de primeiro e segundo graus,
que ficaram depois nas mãos
de tais professores, muito pouco puderam
aproveitar, em termos de ensino seguro,
e se tornaram, obviamente, núcleos
propícios a vários tipos
de acordos escusos.
Hoje, infelizmente, tal espírito
começa a avançar também
no ensino oficial de terceiro grau.
E o que acabou de ocorrer na UNESP
de Assis é praticamente um
exemplo típico. Os estudantes
de Assis, depois de se disporem heroicamente
a “apoiar” a greve de
seus professores – justa, diga-se
de passagem, nas suas reivindicações
salariais, mas talvez organizada em
momento inadequado – não
assumiram efetivamente as conseqüências
do apoio dado e, ao invés,
resolveram, ao final, cobrar dos docentes
a retribuição, com a
exigência do término
imediato do ano letivo e da concessão,
para todos, da nota mínima
que garantisse sem esforço
a sua aprovação.
Veja-se que se pretendeu a mesma
troca de gentilezas que caracterizou
o referido “pacto da mediocridade”,
curiosamente mais disseminado na época
em que esses mesmos universitários
cursavam os bancos escolares do primeiro
e segundo graus. Ainda bem que os
professores da UNESP de Assis se uniram
em torno da defesa de sua autonomia
de avaliação, evitando,
pelo menos por ora, que a democracia
que aí se pretende degenere
em “democratice”, um regime
de aparente igualdade, mas de fato
desrespeitoso, que permite pactos
e concessões que reduzem a
dignidade pessoal e acadêmica,
em forte comprometimento do futuro
da Universidade.
(VOZ DA TERRA – 19/12/87)