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Inquietações de Assis retrata deliciosamente o cotidiano da vida do interior. A centenária Assis é homenageada neste livro dentro de aspectos muito peculiares. Alguns personagens característicos, eventos emocionantes e seus aspectos políticos e sociais aparecem em artigos publicados pelo autor em jornais locais desde 1975.
O destaque particular, ao ensino e ao professorado, representa a íntima relação do autor com esta cidade de efetiva tradição universitária.

     :: Irregularidades públicas


O problema maior não é constituir ou não uma CPI, criar ou não uma Comissão de Sindicância no serviço público. O problema maior é o de ter havido irregularidades (ou grande suspeita delas) que, na seqüência natural do cumprimento do dever, dariam motivo à hipótese dessas comissões.

Se tais irregularidades de fato chegaram a ocorrer ou se delas se têm fortes evidências, nada mais certo que haja, em defesa do dinheiro público do contribuinte, pela autoridade competente e honesta, as providências mais adequadas sobre a averiguação do possível ato de malversação, a fim de que, cumprindo a obrigação que lhe cabe e revelando transparência em suas atitudes, a administração pública caminhe no sentido de aumentar a credibilidade de que carece para o seu bom exercício.

O que sucedeu com a CPI dos Bancos, nos altos escalões federais, sobre ser altamente desabonador, se torna assim mais preocupante, não tanto pelo efeito do desgaste de políticos que pouco de boa imagem têm a preservar, mas, principalmente, pelo efeito negativo que, em médio ou curto prazo, se pode estender aos demais escalões menores das entidades públicas.

Quando se trata de acomodar, para o próprio interesse, os inconvenientes de problemas graves, o mau exemplo de cima encontra muito maior número de seguidores do que se supõe. Qualquer diretor de unidade ou de repartição se pode sentir “fortalecido”, para o lamentável comportamento de “abafar” problemas graves que enfrente, com o insustentável argumento de querer manter a boa imagem externa do setor ou da instituição que representa. Será, sem dúvida, uma atitude cômoda desviar-se dessas dificuldades, mas bastante danosa para o serviço público, em especial para o bolso do contribuinte, que no fundo é quem acaba arcando com o ônus de tais irregularidades e irresponsabilidades.

E o pior de tudo é que, agindo-se dessa forma, as irregularidades continuam, ou mais do que isso, elas se estimulam em razão da escandalosa impunidade e tendem a se renovar, de forma crescente, acelerada, para desmoralização cada vez maior do dirigente público, em cujo papel, dessa maneira, pouco entusiasmo haverá, doravante, para pessoas de maior valor, de competência e de honestidade.

Faz-se necessário, por conseguinte, que os segmentos ainda dignos da sociedade, assessorados por uma imprensa sadia, se insurjam contra atitudes escusas que, ocultando os passos de quem as toma, sejam perniciosos caminhos da corrupção. Como toda democracia autêntica propicia o uso livre da palavra, todos têm o direito de cidadania de acompanhar, de perto, a atividade pública, o dever de eventual crítica construtiva, apontando as possíveis inconveniências e, também, os reais méritos.

Por isso mesmo, se um regime democrático verdadeiro deve não defender o autoritarismo, também não pode permitir que ele se confunda com o exercício sério de autoridade, em especial do responsável por poder público, que precisa com firmeza tomar decisões exatas, transparentes e, acima de tudo, bastante dignas, no mais elevado respeito ao cidadão, que quer ser bem representado nas funções de interesse coletivo. É um conceito negativo o de autoritarismo, por envolver imposição arbitrária de idéias, o mando pelo mando; bem diferente é o de autoridade, da qual, com atenção, respeito e seriedade, depende em muito a boa ordem de qualquer organização.

(JORNAL OESTE NOTÍCIAS, DE PRES. PRUDENTE – 28/03/96)